quinta-feira, 6 de junho de 2013

VOCÊ É SEU PRÓPRIO JUIZ - CALUNGA


VOCÊ É SEU PRÓPRIO JUIZ

Calunga

Eu não consigo aceitar a mentira - diz uma ouvinte.

-Não seja radical com nada, minha filha. Não faça isso. Você também é mentirosa. 

E a gente nunca sabe quando vai precisar mentir. Aí, vai mentir como? 
Vai ser desonesta consigo mesma?

Quando a gente se impõe uma lei muito rígida, um dia acaba escorregando nela. 

O nosso ser, então toma aquilo como uma desonestidade nossa. E, se você tem 
um programa de punição à desonestidade, ele vai ser acionado automaticamente. 
Então, você acaba criando a própria desgraça.

Vamos procurar dizer a verdade. Só procurar, já está bom, porque você também 

não aguenta ouvir toda a verdade de uma só vez. As vezes, para falar com você, 
os outros têm que adoçar.
Mas é você que vai ter que sustentar os próprios conceitos, porque vai viver pelas 

leis que você mesma se impôs. Vai se promover ou se punir, de acordo com o que 
você acredita. Você é o seu juiz, minha filha, porque Deus não é juiz de ninguém. 
Portanto, vá com cautela para não aprontar uma bem feia para você.
O povo gosta de dizer
Dessa água não beberei...

Mas, olha, que é dessa água mesmo que você vai beber.
Então, vamos ser abertos e ter conceitos provisórios. Ah, por enquanto estou pensando 

assim, estou fazendo assim, mas amanhã não sei. Garantia, eu não tenho de nada. 
Sei lá se amanhã vou ver o mundo diferente.

Também não estranhe minha filha, se você pensar diferente dos outros. Não estranhe a 

estranheza dos outros, viu? -

Do livro UM DEDINHO DE PROSA Calunga

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