quinta-feira, 27 de junho de 2013

COMO ENTENDER A ANSIEDADE





COMO ENTENDER E COMBATER A ANSIEDADE

POR PRISCILA MARTINS

Com reflexões sobre a ansiedade, a psicóloga Priscila Martins ajuda a esclarecer as causas e a começar a combater esse mal 

Para começar esta coluna, proponho um rápido pensamento: na última semana, quantas vezes você escutou as seguintes expressões:

“Estou ansiosa, terei aquele importante encontro amanhã.”

“Estou comendo muito, devo estar ansioso com aquele acontecimento que acontecerá semana que vem.”

“Estou com dor na cabeça, deve ser porque estou ansiosa com aquela ligação que estou para receber.”

Poderia colocar aqui várias frases que escutamos e usamos no nosso dia a dia quando estamos ansiosos ou queremos falar de ansiedade. Mas o que é a tal da ansiedade?

Ansiedade é um sentimento que vive no futuro. É o sentimento que temos em relação às coisas que ainda não aconteceram. Além disso, é uma condição de estar vivo do ser humano. Como assim?

Quando a ansiedade aparece, o corpo entra num estado de alerta. Alerta em relação à situação que irá acontecer. Isso é ótimo para as pessoas poderem se organizar, agir racionalmente, planejar e refletir. Tem uma dose, portanto, de ansiedade que é completamente saudável. Ela deixa de ter o estado de “sentimento normal” quando é acompanhada de sofrimento e mais ansiedade, ou seja, quando se “erra na dose”.

É de se preocupar, e talvez procurar um profissional da saúde, quando as camadas da vida – trabalho, família, amor, dinheiro, saúde, sexo e lazer – estão se tornando motivos de muita preocupação. Quando constantemente aparece o tal do “eu não estou dando conta”. E é aqui que há a necessidade de uma mudança no entendimento dos próprios comportamentos. Interrogar, por exemplo, por que é preciso dar conta de tudo, se isto é possível e como se “erra na dose”.

Irei exemplificar com dois casos. O primeiro mostra uma típica reação de ansiedade acompanhada de medo, e que traz como sequela pensamentos de repetição do acontecimento. E o segundo mostra uma típica preocupação do homem moderno.

O tempo todo meu chefe me pressiona, tenho que saber tudo, não posso desligar
“Eu estava no quartinho dela (sua bebê), trocando-a. De repente, aquele barulho de chaves abrindo a porta. Eu tinha certeza que tinham entrado no apartamento. Minhas pernas começaram a tremer e a minha boca ficou seca; se tivesse que gritar, acho que a voz não iria sair… Fui devagar até a porta do quarto e tranquei-a. Nesta hora, meu coração estava saindo pela boca e começaram aqueles pensamentos catastróficos que você já conhece doutora: vão matar minha filha na minha frente, vão abusar de mim, meu marido ficará sozinho…

Entrei dentro do guarda roupa da minha bebê – nesta hora, eu já tinha jogado todas as roupinhas dela no chão, numa velocidade que eu imaginei que não tinha. Liguei para meu marido. Ele atendeu e falei o que tinha acontecido, que achava que tinha alguém invadindo nossa casa. Ele riu e disse que era ele que estava dentro do apartamento, que havia voltado para pegar as chaves do carro.”

Um exemplo simples e bem comum que mostra o quanto o corpo dela se preparou, inclusive com reações físicas, para fugir. Obviamente que não tinha como ela saber quem estava fora do quarto, mas a questão aqui é que este evento foi suficiente para ela não conseguir mais escutar barulhos de chaves e ficar em casa sozinha.

O outro exemplo é de um homem que sofre de enxaqueca e insônia todos os dias à noite. Neste caso, foi percebido, em seu tratamento, que ele está sempre sufocado e atento à sua estressante rotina. De acordo com suas palavras: “o tempo todo meu chefe me pressiona, tenho que saber tudo, não posso desligar”. Uma típica queixa e mal moderno: sofrer do excesso de compromissos e informações que se “tem que ter”.

O segundo exemplo mostra que, atualmente, pode ser cometido o equívoco de que o ser humano processa as informações que lhe estão disponíveis tal qual o funcionamento de um computador. Todos os dias, são recebidas novas informações sobre alimentos que podem ou não ser ingeridos, acidentes e crimes cometidos, o que causa ou não câncer, quais dietas emagrecem mais, crises financeiras, guerras civis de outros países, desemprego, novos cursos que podem melhorar o currículo, corrupção e a falta de uso dos impostos pagos, bullying nas escolas, o que acontece no Facebook, tablets mais modernos… Enfim, o tempo todo, se a pessoa quiser ler e ver, terá acesso a um bombardeio de informações.

Só para demonstrar tal realidade com um exemplo científico, de acordo com o autor Richard Saul Wurman (em seu livro “Ansiedade de Informação”), apenas uma edição dominical do “The New York Times” (jornal americano de maior circulação) tem mais informação do que apenas uma pessoa do século XVII recebia na sua vida inteira. É evidente que a capacidade intelectual do ser humano atual é diferente, visto que recebe informações de diversas fontes desde pequeno (este também é o papel da escolarização cada vez mais cedo e instrumentalizada), mas o que coloco aqui é a ilusão ao achar que ”vai dar para ler tudo, fazer tudo.” Não. Tudo é impossível.

Para lidar com a ansiedade, é preciso, então, dois tipos de reflexão:

1- O que está acontecendo é real ou estou exagerando?

Aqui entra o exemplo da mãe que entra em pânico quando ouve o barulho de chaves.

Antes de saber que era apenas o marido que estava à porta, ela teve reações que mudaram a cena real. Não conseguiu ver o presente.

2- Consigo filtrar as informações que recebo?

E aqui entra o segundo exemplo, uma vez que aquele homem, ao querer dar conta de tudo, não filtra e não estabelece prioridades para o momento, o presente.

Para cuidar da ansiedade, é preciso pensar o que pode aumentá-la. E aqui cabem as alterações hormonais, componentes hereditários, estresse e situações traumáticas antigas, por exemplo.

E olhar para a ansiedade é olhar para onde pode estar o exagero. Pare, pense, reflita e veja o que está em excesso e pode ir embora. E isso não significa retirar todas as preocupações da vida. O grande desafio, portanto, é parar para descobrir os motivos das angústias, das inquietações. É como eu li certa vez num slogan de uma academia de ginástica: “Pare, respire e não pire. Se pirar, procure ajuda.”

Priscila Santos Martins, CRP 06/84903, é psicóloga clínica graduada pela PUC-SP.
Aprimorada em Clínica Psicanalítica: A linguagem e suas manifestações psicopatológicas pela DERDIC – Divisão de Educação e Reabilitação nos Distúrbios da Comunicação (PUC-SP).
Aprimorada no atendimento a crianças vítimas de violência pelo Núcleo Espiral – Núcleo de Atendimento e Pesquisa sobre Violência e Resiliência.
Realiza atendimento a crianças, adultos e orientação a pais em consultório particular.

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