quinta-feira, 6 de junho de 2013

O XAMÃ



O XAMÃ

Léo Artése

O xamã, não se autoproclama. Ele é chamado para suas tarefas espirituais, passa por 
treinamentos e então é reconhecido pelas pessoas de sua comunidade.

Nos primórdios da humanidade, os seres humanos, sentiam-se frágeis perante as forças 

da natureza e temiam aqueles que não pertenciam aos seus clãs, animais, etc.
Para suprir essas carências, surge o xamã como um "organizador do caos" para despertar 

a consciência. Assim eles recorriam àquele que era concebido como um guerreiro que 
atuava com armas espirituais, que faziam a ponte entre o mundo dos homens e espíritos.

A palavra xamã tem sua raiz na Sibéria, vinda da palavra "saman", aparentado com o 

termo sânscrito "sramana" que significa: inspirado pelos espíritos.

O xamã pode ser homem ou mulher.
O termo xamã foi adotado, pela antropologia, para se referir a pessoas de uma grande 

variedade de culturas não ocidentais, que antes eram conhecidas como : bruxo, feiticeiro, 
curandeiro, mago, mágico, vidente, sacerdote, pajé, homem da medicina, o terapeuta,
 o conselheiro, o contador de estórias, o líder espiritual e outros.

Defini-se o xamanismo como um conjunto de crenças ancestrais que estabelecem contato 

com uma realidade oculta, ou estados especiais (alterados) de consciência, a fim de obter
 conhecimento, poder, equilíbrio saúde para si mesmo e para as pessoas

O xamã, não se autoproclama. Ele é chamado para suas tarefas espirituais, passa por 

treinamentos e então é reconhecido pelas pessoas de sua comunidade. A iniciação tem 
um fundamento nas bênçãos recebidas pelos instrutores que passam uma espécie de 
"autorização espiritual" para conduzir cerimônias. Isso é honrar o conhecimento e não usurpar,
 e nem banalizar o processo de iniciação espiritual. Trata-se de um sacerdócio. 
É uma missão de utilidade pública.

Parte-se de um princípio que neste mundo nada é dado de presente, tem que ser aprendido. 

Tudo é troca. Aquele que tem por destino ser xamã experimenta um certo mal estar, um certo 
tédio pela vida, tédio de viver num mundo demasiadamente seguro, sensibilidade voltada para 
o misticismo e para as forças do inconsciente.

Sua vocação é demonstrada por perturbações no comportamento ( loucura controlada), 

vem também por transmissão hereditária, por decisão pessoal onde passa por provas
 (jejuns, recolhimentos, sacrifícios corporais...) ou é eleito pelo clã. Iniciado pelos espíritos 
tem uma vivencia de morte simbólica para posterior ressurreição. Permanece dias em locais 
isolados sem falar, comer, e, quase sem respirar. Geralmente conta em suas provas, 
ao regressar de sua viagens que seus ossos foram arrancados, sua carne raspada, tem a 
cabeça decepada, isto é o coma iniciático. Ele deve morrer em seu corpo terrestre para 
renascer em corpo astral. Esqueletos de pessoas, pássaros ou animais, são alguns dos
 ornamentos dos siberianos. 
Simboliza o tempo do nascimento do xamã - meio homem - meio animal.

Muitas iniciações também envolvem atravessar brasas ( Manchus), nadar sobre o gelo, beber

 sangue (goldos). Entre os Iacutes, no alto de uma montanha, com o mestre no território das 
doenças, ensina-se a reconhecer a doença e curá-las. Para cada parte do corpo ele cospe 
na boca do outro, que deve engolir o seu cuspe para diagnosticar a doença. Os Buriatas 
faziam a purificação pela água (batismo) com plantas aromáticas e algumas gotas de 
sangue de bode, para invocar os ancestrais. Segundo Mircea Eliade uma pessoa
 torna-se xamã por:

1) vocação espontânea (chamamento ou eleição)

2) transmissão hereditária da profissão xamanica

3) por decisão pessoal ou, mais raramente pela vontade do clã.

Mas independentemente do método de seleção, um xamã só é reconhecido 

como tal no fim de uma dupla instrução:

1) de ordem extática (sonhos, visões, transes, etc.) e

2) de ordem tradicional (técnicas xamanicas, nomes e funções dos espíritos, 

mitologia e genealogia do clã, linguagem secreta, etc.). É sobretudo a síndrome da 
vocação mística que nos interessa. O futuro xamã singulariza-se por um comportamento 
estranho; procura a solidão, torna-se sonhador, adora vaguear nos bosques ou lugares
 desertos, tem visões, canta durante o sono, etc

Faziam também parte das iniciações o calor (tenda do suor) e com plantas de poder, 

que proporcionavam o arrebatamento místico, viagens astris etc. Parte-se de um princípio 
que neste mundo nada é dado de presente, tem que ser aprendido.Aquele que tem por 
destino ser xamã experimenta um certo mal estar, um certo tédio pela vida, tédio de 
viver num mundo demasiadamente seguro, sensibilidade voltada para o misticismo e 
para as forças do inconsciente.

Trata-se de um sacerdócio. Muitas pessoas querem ser xamãs sem conhecerem as obrigações 

inerentes a essa função, a entrega. É uma missão de utilidade pública. Várias pessoas se 
denominam, mas o que determina é o trabalho espiritual. Tem gente que se denomina ator 
político, técnico de futebol, terapeuta, professor. Tem gente que se denomina espiritualista. 
Tem gente que se denomina Pai-de-Santo. Enfim, no xamanismo também!

Atualmente existem muitas pessoas que se autodenominam xamãs, que no final das contas 

aprenderam alguns conceitos, mas nunca foram numa floresta, nunca foram a estados profundos 
de consciência, não estão inseridos numa comunidade espiritual, mas estão dando aulas.

É uma iniciação séria e não uma prática que se aprende em um final de semana. 

Um xamã transformou a sua vida, conseguiu a sua cura através de profundos processos 
de morte e renascimento, lidou com perdas, enfrentou entidades, enfrentou sua própria sombra, 
e obteve o conhecimento essencial e o reconhecimento de seus instrutores para poder 
compartilhar com os outros. Lembro também que xamanismo não é só praticas de rituais 
e cerimônias, e sim uma forma de vida, uma nova visão do mundo, que se aplica, 
primeiramente no condutor.


São anos de preparação. Está além dos rituais é um jeito de viver .Ser um xamã é

 abraçar um sacerdócio, não é um trabalho somente terapêutico, é uma caridade de alto risco,
 é assumir uma responsabilidade com o Universo de viver em harmonia com a natureza, 
de ajudar o próximo, de transformar o ambiente em que vive, de ser aparelho de transformações 
nas pessoas que dele se aproximam. Uma mudança radical, profunda, verdadeira. 
Ser xamã não é uma profissão, é um dom.

Ninguém, entretanto, precisa ser um xamã para praticar xamanismo. Você pode ir à missa, 

sem se tornar um padre. Ser xamã Implica em iniciações e transformações de profundo 
significado que visam preparar o aprendiz para ajudar o próximo, e passar a sua vida nisso. 
Não são todos os que estão preparados para abrirem suas vidas para se dedicarem 
verdadeiramente ao outro. Não se aprende a ser xamã em salões de espaços esotéricos. 
Neles você encontrará as práticas xamanicas, que lhe colocarão em contato com a egregora, 
isto, se o condutor for realmente um iniciado e não um oportunista que nunca se entregou a 
processos de morte e transformação e só fez o caminho das flores sem tocar nos espinhos. 
No xamanismo também aprendemos a lidar com o Mundo da ilusão.

Perante a sociedade atual em que vivemos é a mesma coisa. Não basta ter conhecimentos 

médicos, se a sociedade não dá um diploma não é possível exercer a medicina de forma legal. 
Não basta ter conhecimento sobre as emoções, se não receber um diploma, ou melhor, se não 
há uma formatura, é possível ser conselheiro, mas não psicólogo ou psiquiatra. Tudo que é sério
 requer um ritual de passagem, uma iniciação.

Os xamãs carregam o conhecimento espiritual e da vida, passados oralmente, lembrando a 

sabedoria dos antepassados. Eles conduzem os ritos de passagem, encorajam a comunidade 
para enfrentar os desafios, aglutinam a consciência comunitária, criando uma identidade grupal. 
O xamã é um especialista do Sagrado. Ele é capaz de mover-se entre os diversos estados de 
consciência. O xamã é uma pessoa que trabalha em Estado Alterado de Consciência ( estado extático, 
transe, estado transcendente - onde a pessoa percebe uma "realidade incomum".) e deve conhecer os
 métodos básicos para realizar esse trabalho. Os xamãs são grandes conhecedores da floresta e das propriedades das plantas .

O xamã é o especialista do invisível.

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