quinta-feira, 13 de junho de 2013

O LOUCO - Khalil Gibran :



O LOUCO

Khalil Gibran 


Perguntais-me como me tornei louco. Aconteceu assim:
Um dia, muito tempo antes de muitos deuses terem nascido, 

despertei de um sono profundo e notei que todas as minhas máscaras
 tinham sido roubadas – 
as sete máscaras que eu havia confeccionado e usado em sete vidas –
 e corri sem máscara pelas ruas cheias de gente gritando: 
“Ladrões, ladrões, malditos ladrões!”
Homens e mulheres riram de mim e alguns correram para casa, 

com medo de mim.
E quando cheguei à praça do mercado, um rapaz no cimo do telhado 

de uma casa gritou: “É um louco!” Olhei para cima, para vê-lo.
O sol beijou pela primeira vez a minha face nua.
Pela primeira vez, o sol beijava a minha face nua, e a minha alma 

inflamou-se de amor pelo sol, e não desejei mais as minhas máscaras.
E, como num transe, gritei: “Benditos, benditos os ladrões que roubaram a

s minhas máscaras!”
Assim tornei-me louco.
E encontrei tanta liberdade como segurança na minha loucura: 

a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido, 
pois aquele que nos compreende escraviza alguma coisa em nós.

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