Benjamin Teixeira
por espíritos incógnitos.
por espíritos incógnitos.
Querem provocar algum tema específico?
Sim, humildade.
O que têm a dizer sobre humildade?
Que humildade é mais uma virtude do intelecto que da moralidade. Trata-se de uma questão de percepção ajustada. O orgulhoso vê tudo invertido. Seus valores são superestimados e suas falhas subestimadas ou desculpadas, ao passo que intensifica as faltas dos outros e encobre suas virtudes.
Recentemente ouvi alguém dizer, lendo livros psicografados, que os mentores parecem arrogantes, falando verdades inteiras. O que têm a dizer sobre isso?
As pessoas estão acostumadas com vernizes sociais. Querem ser afagadas em suas ilusões egóicas. Não falam abertamente o que pensam e preferem ouvir gentilezas à verdade. Quando alguém “não lhes passa a mão na cabeça”, sentem-se ofendidas, e, é claro, a pessoa que foi franca, é tida à conta de louca. Não podem enfrentar a realidade de sua situação psicológica. Ser-lhes-ia duro demais. Assim, defendem-se com a racionalização de suas atitudes, fugindo ao confronto com a verdade. Assim, amiúde, na Terra, o que passa por humildade, é falsa modéstia, enquanto que a verdadeira humildade – o reconhecimento claro da realidade tal qual ela é – passa por arrogância.
Que dizer ao orgulhoso?
Que, primeiramente, pense no ridículo de se julgar o que não é. As pessoas notam isso claramente e o que menos o orgulho desejaria acontece com ele: passa por um papel patético que a maioria, gentilmente oculta-lhe, enquanto evitam-no, sem que ele nem de longe imagine por quê. Que, por outro lado, seja mais realista. Que não troque fatos por desejos, por pressuposições de verdade, por valores que o agradam, porque é isso que faz o orgulho ser assim.
Há uma diferença entre vaidade e orgulho?
Enorme. Para começar o orgulho é uma espécie de loucura – já que provoca uma afastamento da realidade, da percepção das coisas como elas realmente são. Já a vaidade é um traço de insinceridade, de hipocrisia: querer e tentar passar pelo que não se é. Para exemplificar, no seu nível menor e menos danoso, a vaidade física, o que acontece não é bem isso? Por que alguém se maquia? Para dar uma coloração à pele que não é verdadeira. Por que alguém tenta parecer mais esperto?: para dar a impressão de ser daquele modo o tempo inteiro, quando naquele instante está se esforçando para impressionar. O orgulho, porém, é a convicção íntima de ser melhor, ainda que ninguém o veja. É aquele que se fecha em seu mundo para se deliciar com a contemplação narcísica do próprio ego, de suas conquistas ilusórias, de sua profundidade e complexidade consideradas por si próprio como ímpares. Normalmente, todavia, o orgulho traz vaidade acoplada; ao passo que a vaidade pode subsistir sozinha. Uma pessoa que sofra o complexo de inferioridade, sendo ou não tal auto-conceito respaldado na realidade, por exemplo, pode tentar, conscientemente, mascarar sua condição, para, inclusive, proteger-se de ataques maldosos de outras pessoas. Assim, uma mulher gordinha usa roupas escuras para tentar ocultar seu volume, e um jovem iletrado evita falar em público para não cometer gafes e expor a própria ignorância ao escárnio geral. Nessas duas situações, há plena consciência das próprias limitações.
O que se pode dizer ao narcisista?
O que se pode dizer ao narcisista?
Que saia de seu mundo infantil. O narcisista acha que nada no mundo é melhor que ele. No fundo, acha que se não está nessa ou naquela circunstância de sucesso, é porque não quis ou não teve oportunidade. Assim, cria pretextos para o sucesso alheio, sempre retirando o mérito de quem está no ápice do êxito, ao passo que se desculpa por não estar em nível maior de excelência, com tudo tipo de racionalização que esteja ao alcance de sua capacidade intelectual. É, por isso mesmo, no esforço de adaptar o universo inteiro a seus caprichos primários, um semi-louco, embora normalmente pacífico: desde que não se toquem em suas feridas.
Há algo que se possa fazer por eles?
Infelizmente, quase nada. Terão que sofrer amargas penas, até que reduzam sua arrogância a cinzas. O tempo se encarrega de, lenta e dolorosamente, mostrar-lhes como não são o que pensam ser: normalmente da pior forma, porque a Vida usa métodos de aprendizagem, na medida da dureza do coração de alguém, e o orgulhoso é um dos tipos de almas mais empedernidas que existem. Como não percebem os diversos indícios que são óbvios para a maioria das pessoas, de que não são tão maravilhosos, terão que notar isso de forma dramática ou mesmo traumática, para que lhes fique inequívoco o engano e não haja nenhum espaço para os mecanismos de defesa desculpistas e racionalizadores do ego.
E o amor, resolve de alguma forma?
Sim, mas muito pouco. Aprende com o amor quem já lhe é receptivo, pelo fato de também amar. E o narcisista, aquele que conjuga orgulho e vaidade em níveis altos, só ama a si mesmo, à própria imagem refletida nas pessoas. E se suas expectativas não são atendidas, imediatamente atacam, tentam submeter ou desprezam aqueles que não se amoldam ao seu modo de ser. O melhor, normalmente, que se tem a fazer com relação a essas criaturas difíceis, é manter uma distância estudada, dando todo o espaço que seus egos inflados exigem, sem lhes permitir muita intimidade, canalizando, por outro lado, o afeto e o carinho por aqueles que realmente podem valorizar esses tesouros da alma. O narcisista tudo entende como um duelo de egos, a toda hora se sente ameaçado e quer se convencer de ser melhor que todos em torno. Por isso, onde chegam costumam ser pernósticos, autoritários e emocionalmente frios, para manter distância de eventuais rivais que eles adivinham em toda parte. O narcisista, por isso, é normalmente uma pessoa acanhada ou extremamente despótica. Ou não fala nada, para que não se expor, ou quer introduzir seu pensamento, seu modo de ser e seus comandos, a pulso, em todos aqueles que dele se aproximam ou de quem ele mesmo se aproxime, por ser do seu interesse. Assim, o narcisista é capaz, amiúde, de se mostrar afetuoso, não porque ame alguém de verdade, mas porque supõe, inconscientemente, nesse alguém, um bom brinquedo para seus jogos de poder e assim manipular ao bel-prazer de seus caprichos. E se não conseguir isso, descarrega todo o fel de seu ódio insano pelo mundo, oriundo da frustração do bebê que não consegue tornar tudo uma teta para sugar, e demoniza a pessoa que não lhe enquadra nos esquemas pré-estabecidos de verdade. Por isso, são sempre “donos da verdade”, doutrinando, comandando e rotulando pessoas e coisas ao seu talante, como se fossem, de fato, o centro e o topo do mundo, ao mesmo tempo.
Então…
Não se lhes dê muita atenção. Entregue-se-os à própria sorte, que têm o direito de escolher, e concentre-se o foco do amor naqueles que realmente dele precisam, que querem sinceramente ouvir seus semelhantes e abrir seus corações sequiosos de calor humano. O narcisista não tem carências: ele se alimenta de suas ilusões de grandeza o tempo inteiro. Ele não é um carente: ele faz carentes em torno de si, gente que lhes dá generosamente o amor e submissão completa que exigem, mas que não recebem retribuição nenhuma, porque o narcisista nunca é grato. A gratidão é algo que simplesmente não existe no seu pensamento auto-centrado. Para ele, tudo que conseguiu deve a si próprio. Jamais, por isso, agradece, quase nunca elogia e jamais homenageia ninguém, a não ser, é claro, ele mesmo. Por isso, recebe amor e devotamento de diversas criaturas, em vários níveis de entrega, e só têm críticas e condenações sobre todos, de pais a amigos. Todos, para ele, estão cheios de defeitos e limitações, tão diferentes dele mesmo, cheio de virtudes desconhecidas e espetaculares… Não nota que, além de se fazer detestável, progressivamente, vida afora, ainda se introduz, a passos largos, para os caminhos sinistros da loucura…
Nossa, que impressionante…
Não é por acaso que Lúcifer, considerado o anjo maior entre todos os anjos (seu nome, inclusive, significa: “cheio de Luz”), na mitologia bíblica, caiu apenas por orgulho, sendo “condenado a sofrimento eterno”, ou seja: a dor imensurável de se ser orgulhoso, e ver o mundo todo contra si, quando ele é quem está contra o mundo, até que supere e corrija essa visão distorcida da realidade. Não por acaso, está em todas as culturas e tradições religiosas que o orgulho é a maior fonte de decadência e desgraça, que destruiu povos e civilizações, que gerou guerras e dizimou populações, espalhando fome, peste e miséria de todas as ordens, no correr de séculos sobre séculos. Não é por outra razão que “O Evangelho segundo o Espiritismo” sugere que se fuja para bem longe daqueles que demonstrem a menor partícula de orgulho. É por isso que se deve combater ardentemente essa tendência no íntimo de si mesmo, aproveitando os exemplos deprimentes daqueles que passam como monstros vivos de ilusão e raiva, pairando como assombrações de si mesmos e de quem se lhes acercar, espavoridos com o demônio do sentimento de excelência pessoal.
E sobre a presunção? Teriam algo a dizer?
A presunção é uma manifestação direta do delírio do orgulho. A pessoa se superestima, e isso causa frustrações e confrontos desgastantes nos relacionamentos interpessoais. Assim, se alguém lhes antipatiza o modo de ser – o que, é claro, é extremamente comum – logo pensam que estão sendo invejadas ou que constituem ameaça aos outros. E não percebem que estão sendo apenas impertinentes e inconvenientes, desagradando a todos. Outrossim, tendem a supor que podem fazer qualquer coisa, já que ninguém pode ser melhor que elas. As decepções vêm sucessivamente, mas elas demoram a acordar, porque reputam sempre seus fracassos ao “olho grosso” de muita gente ou a conspirações misteriosas de inimigos que lhes tentam obstar o progresso. Como se fossem tão importantes, que todos estivessem sempre criando complôs para lhes impedir a fantástica ascensão, em todos os sentidos. Não é de estranhar que essas pessoas costumem ser pessimistas e desconfiadas, já que ninguém está à sua altura, e todos, é claro, estão contra a grandeza acachapante do seu ser espetacular. Curioso notar que a presunção e o orgulho que lhe subjaz é seu próprio castigo já que, além de ressequir o coração de quem está por ele dominado e de afastar pessoas, é um poderoso mecanismo auto-sabotador, que faz com que o indivíduo bloqueie fluxos criativos e mesmo os produtivos, reduzidos que ficam à insignificância – que eles não enxergam – de seus egos, de modo que se desconectam de todas as forças do cosmo acima de si, as potências transpessoais de todos os níveis evolutivos além do seu, que, é claro, eles ou ignoram completamente ou agem como se não existissem, chegando mesmo a duvidar da existência do Criador, que criou um mundo que não atende aos seus caprichos infantis, que, é claro, não vêem como infantis, revestindo-os de uma seriedade pomposa e patética típica a melodramas de baixo calão. Da sua perspectiva semi-psicótica, quem os elogia é sensato; quem os critica ou está com inveja ou está fora da realidade.É por isso que, afora as razões técnicas concernentes à confusão entre precocidade e inteligência excepcional, os “meninos-prodígio” costumam sumir totalmente, imersos em níveis medíocres de desempenho à medida que avançam para a adultidade. É por isso que não é raro encontrarem-se tipos cultos e inteligentes, escondidos e morfando na inutilidade, cheios de amargura contra o mundo que nunca lhes reconheceu a genialidade… Além de não serem tão capazes como pensam, não sabem trabalhar com outras pessoas, não querem aprender com ninguém, nem se esforçar para nada. E estranham, ainda, que não progridam. Por isso, é comum vê-los falarem de sorte dos bem-sucedidos e do enorme azar que padecem, sentindo-se injustiçados e vítimas de ingratidão em toda parte. Por isso, são ótimos críticos e péssimos realizadores, gozando com o poder que imaginam grande de denegrir a realização de outros, supondo que, se assim fazem, estão acima de quem julgam e que poderiam fazer melhor, sem notar que não contribuem com nada de efetivamente útil para ninguém, nem mesmo para eles próprios, infelizes, atormentados…
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